sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A verdade da mentira

Por Raul Tartarotti*

No ano de 1715 o economista escocês John Law, foi convidado pelo governo Francês para apresentar idéias econômicas, com o objetivo de solucionar a imensa dívida de três bilhões de libras, que Luís XIV deixou, ou seja, um país praticamente quebrado.

A ideia da vez, foi a criação de títulos públicos do governo, que até hoje são emitidos por diversos países, para solucionar seus problemas de falta de grana.

Porém, a mão da ganância, foi maior que a entrada de dinheiro, e a falcatrua proposta não levou muito tempo para aumentar o rombo financeiro.

A mentira dava mais um passo nas investidas de um povo ávido de boas notícias (good news), mas também querendo viver de facilidades, é esse o momento que permite a disseminação das fake news.

Elas sempre estiveram por aí,  o que mudou foi a forma de apresentação.  No século 21, ganhou roupagem digital.

"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário " (George Orwell).

No século XVI, com a invenção da prensa de Gutemberg, imaginava-se que a Bíblia seria o livro mais impresso, para divulgar a palavra de Jesus;

-  Conheceis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32).

Porém, o livro mais impresso foi " Encontre técnicas para você descobrir sua própria bruxa".

E assim, as mentiras sobre bruxaria, ensinavam as pessoas a procurar bruxas para entregar á inquisição, e depois serem queimadas.  Que ironia do descobrimento, a bruxa surgia nos olhos de quem tivesse mais criatividade.

Nas eleições americanas Donald Trump, o Rei das fake news, levou a pior dessa vez, mesmo enviando notícias inapropriadas durante o pleito; sua intenção era ganhar no grito.

"Sabemos o que dizemos, mas nunca o que o outro entendeu" (Jacques Lacan). Portanto fique atento ao que os outros escrevem na web.

O documentário " A verdade da mentira", lançado em 26 de outubro desse ano, nos apresenta imenso cardápio de artimanhas da metodologia moderna, onde sistemas complexos como o Stilingue, mapeiam as notícias na web, de forma que podemos ver como o gato caça o rato mentiroso, agora bem mais sofisticado, e na telinha colorida.

Esse documentário foi realizado baseado em estudo de 2017, que mapeou os elementos da desinformação nos períodos eleitorais.  Porém, ele também destaca outro estudo de 2014 , realizado pela FGV, que se chamava robôs, redes sociais, e política no Brasil, que já mostrava naquela época a presença de robôs na política.  A diretora desse documentário, Carolina Telles, entendeu a importância desse trabalho, com objetivo de denunciar a forma como as fake news circulam entre nós, e que podem alterar o rumo de uma eleição.  Ela mostra uma massa crítica recebendo notícias falsas, bem antes de escolher seu candidato. Vejam que ilusão podemos nos meter navegando nesses mares revoltos das fake News.

*Cronista do Jornal Floresta - Escritor, cronista,  eng. biomédico, pesquisador e industriário