Política de evolução

 Por Vicente Bogo*

Que há uma decadência política e o aumento do descrédito em relação aos políticos é evidente. Se o processo constituinte nacional de 1987-88, incluindo o comportamento médio de seus membros representou um ápice na política nacional, de lá para cá a qualidade dos candidatos e dos eleitos que passaram a exercer mandatos representativos tem se revelado decadente.

Não é preciso ir longe para exemplificar. No mandato anterior, por exemplo, no Senado Federal, chegamos a ter um terço de sua composição integrada por membros suplentes. Depois, agora, como efeito de uma campanha de renovação, aprofundou-se o problema, com a eleição de novatos sem experiência na vida pública, sem formação específica e sobretudo sem compromisso com os valores humanos e democráticos. Em paralelo a isso, no Poder Judiciário (STF) passou-se a legislar, a interpretar o inexistente, a ignorar o grande direito que faz tradição e base para uma sociedade estável e madura.

É preciso recuperar e desenvolver conceitos consagrados pela alta inteligência política que já tivemos: humanista, sobretudo.

A política é a arte de conduzir os vários interesses existentes numa sociedade de forma a prevalecer o bem comum. E, o político é aquele, líder, que sabe mover-se diplomaticamente para a construção dos vários consensos e valores que fazem evolução para todo o corpo social.

Aliás, o verdadeiro político, na sua atuação, se abstrai das razões pessoais para fazer prevalecer o bem de todos. Deveria ser o último beneficiado. E quando assim agir, sempre o será como consequência da construção erigida. Todo líder, em qualquer plano, sempre que contribui para o bem estar e o crescimento dos outros, colhe um resultado transcendente, único, com valor inestimável.

Para avançarmos como sociedade em direção à justiça e à realização plena do humano, há que se melhorar o político, a política e as pessoas em geral. É um erro esperar que apareça um salvador da pátria, continuar acreditando de que fulano ou ciclano vai resolver. Se não mudar a consciência e a atitude de cada um, caminharemos em terreno íngreme.

Ah, também é falso esperar que os outros mudem. Muitos concordam que é preciso mudar. Mas poucos ou ninguém está disposto a mudar efetivamente.

Neste contexto, um candidato e futuro governante ou legislador pode atuar de modo a iniciar a mudança, por exemplo, diminuindo o assistencialismo que faz dependência do estado e assassina a alma do cidadão. No mínimo, exigindo contrapartida. Se recebo de um ou de toda a sociedade, o que importa é que se sou ajudado tenho uma responsabilidade de depois também ajudar, devolvendo, talvez, prestando algum serviço e me tornando autônomo condutor da própria existência.

A construção da própria autonomia é o fundamento que deveria estar já na impostação familiar e escolar.

Paralelo a isso, é fundamental o zelo com o dinheiro e a coisa pública. O governante tem que evitar os gastos desnecessários e o desperdício do dinheiro público, por exemplo, evitar iniciar obras sem recursos para sua conclusão, evitar investir naquilo que pode trazer dividendo somente político pessoal, mas não representa e escolha mais criteriosa, prioritária.

Em suma, o líder é o primeiro que serve, dá exemplo. E tem a responsabilidade de convocar a todos a construir à própria autonomia e à ação solidária, sempre que necessário.

E, cabe a todos nós evoluir cultural, racional e socialmente.

*Ex Vice-Governador RS - Professor