Embate infrutífero

Por Vicente Bogo*

Reascendeu-se nos últimos anos a contraposição política entre direita e esquerda, alimentada por interesses nem tão convenientes aos cidadãos.

Diz-se que em casa onde faltam as coisas seus moradores brigam entre si, tendem a se acusar e culpar mutuamente.

É sempre o mesmo comportamento social neurótico, esquizofrênico: as culpa é sempre do outro. E, cada um se sente lesado, excluído, prejudicado, cheio de direitos e injustiçado.

Não há sociedade que se desenvolva bem em tal ausência de autocrítica pessoal, das organizações e, principalmente, dos partidos políticos e seus líderes.

Solidariedade, trabalho, responsabilidade, bom senso devem nortear a conduta de todos os cidadãos. De outro modo, enveredam em levianas acusações e conflitos.

Neste contexto, uns vendem o temor representado pelos outros caricaturizando, por exemplo, direita e esquerda, comunismo e capitalismo, como se alguma das partes pudesse dar conta do desafio de liderar ‘in progress’ a coletividade. No fundo, ambos têm uma visão autoritária, intervencionista, controladora do Estado e da sociedade. Se veem tutores da sociedade em que as pessoas são, supostamente, incapazes de se auto conduzir.

Tantos que alardeiam e difamam por aí afora, na mídia, nas redes sociais etc., sequer sabem desenvolver um argumento racional consistente, lógico, que sustente sua visão, seja colocando-se como legítimos defensores da sociedade, seja como detratores dos seus concorrentes ou adversários.

Quer dizer, além da ignorância, da má-fé – e, talvez o mais grave –faltam com a verdade, praticam a desonestidade intelectual. Vide o ideologismo no sistema educacional e o direcionamento midiático.

Olhando para o posicionamento eleitoral dos cidadãos que votaram nas últimas eleições (2020) ficou evidente o rechaço do discurso esquerdista e o direitista. Na realidade, em especial os de esquerda maquiaram para um discurso de moderação e crítica ao ‘status quo’.

O que prevaleceu – um comportamento habitual da maioria do eleitorado – é a contínua manifestação dos eleitores em prol dos próprios interesses, a busca por soluções para suas dificuldades, notadamente no que tange à renda e bem estar social. Não há surpresa nisso, o eleitor vota ‘nele’ e quando tudo parece sem perspectiva ou saída vota pelo radicalismo de direita ou de esquerda.

Qualquer cientista social, analista atento, preparado, sabe que o humano é por natureza social conservador, avesso a aventuras que lhe representam incertezas. Liberdade e autonomia estão na base do humano.

Essa natureza conservadora é tanto mais intensa quanto maior for a fixação ideológica dos indivíduos, de um grupo, um partido ou uma sociedade. Geralmente isso se conforma por cultura ou pela manipulação da opinião geral.

E, ao final, direita e esquerda são partes opostas da mesma moeda política de pouco valor evolutivo, conquanto ignoram e não respeitam os valores fundamentais do ser humano, pautam-se pela intransigência.

Somente uma nova e ajustada consciência – livre, madura e responsável – produz o homem autêntico capaz de conduzir ao real progresso da sociedade.

*Ex Vice-Governador RS - Professor