Decadência político-eleitoral

Por Vicente Bogo*

Em 1988 celebramos a adoção da ‘Constituição Cidadã’ (Ulisses Guimarães). A nova constituição estabeleceu um novo pacto político fundado na soberania, no propósito democrático, na justiça social e no desenvolvimento.Passadas mais de três décadas observa-se que, apesar dos solavancos econômico, houve desenvolvimento e melhoria das condições gerais sociais, notadamente uma ascendente assistência pública.

No entanto, experimentamos uma notória degradação nas relações sociais e políticas, resultando ou resultado de uma cultura de dependência (assistencialista), de um discurso político demagógico e da malversação dos recursos públicos, incluindo aí os gastos desnecessários (sem critério) e o desperdício.Como efeito de tudo isso, temos uma perda de representatividade, de confiança e de qualidade do exercício e do discurso político. Tudo, empobrecendo e comprometendo até mesmo a mediana política.A democracia passou a ser democratismo. Só vale o que interessa a cada um ou seu grupo. Não há respeito pelo coletivo. Aprova-se hoje para se desfazer amanhã. E assim passamos a viver num ambiente de contínua sabotagem. Deixamos de ter um projeto de povo, de nação, um compromisso com a causa comum. A democracia se tornou opinião de pouco valor.Agravando tudo isso temos uma completa ausência de qualidade – também de exigência dos cidadãos – no debate político. Investimos grandes somas no aparato democrático, nos partidos políticos e processos eleitorais para colher cada vez menos liderança efetiva, aperfeiçoamento (incluindo transparência) das instituições e responsabilização do cidadão.

Neste ano, 2020, mais de R$ 2,8 bilhões de reais estão sendo investidos (!) para o sustento e custeio dos partidos e os candidatos (Fundo Eleitoral e Fundo Partidário). Falta dinheiro em tantas prioridades (necessidades básicas ou estratégicas). Mas, como é utilizado este dinheiro (público)?Era de se esperar de que cada processo eleitoral servisse para formar mais consciência crítica, mais responsabilidade, união, convergência e construção de propósitos comuns, ... no mínimo servir para educar o povo, fazer pedagogia política, mostrar problemas e soluções, qualificar os políticos.

Contudo, o debate eleitoral se resume a ampliar a oferta de facilidades, fazer proselitismos autopromocionais e a difamar os adversários.Há uma pobreza política e intelectual impressionante. Uma mesmice discursiva, ideológica e repetitiva que repele, talvez enoje, o eleitor.

Esta carência de lideranças, com consciência crítica superior, com sensibilidade para ver a situação e apontar caminhos efetivos de evolução é resultado de todo esse contexto em que estamos imersos, manipulados pela mídia, pelo mercado e por uma visão de quase vale tudo, onde navega frouxa a corrupção e outras mazelas.Se, pelo menos, os candidatos a vereador discutissem com a população o seu papel, inclusive o de fiscalizar o executivo e, se os candidatos à prefeito fizessem a discussão das finanças públicas, já teríamos algum ganho educativo.

*Ex Vice Governador RS. Professor