Cidade - Lembrança tem vida

Por Raul Tartarotti*

Há muito tempo que tento andar, nas ruas de um porto não muito alegre, onde sinto emoções que me sobem dos pés até a espinha dorsal.Cresci no entorno de ruas que me esperavam diariamente de braços abertos. Canteiros verdes, prédios novos, e aquele armazém lotado de coisas boas, pra nos engordar. Mas a saudade dos tempos idos, que me remete a infância, é da qualidade impar de uma lágrima. O desejo de ser tudo igual novamente, e a lembrança dos momentos doces da infância inocente, não me deixam sentir as novidades, como a verdade de nossas vidas.

Mas que no entanto, me traz encanto, de saber que foi ali, naquelas esquinas que me criei e me fiz feliz. Com minha família, amigos e vizinhos, foram muitos, e bem próximos.  Me era típico visitar e cumprimentar os passantes, porque todos moravam ao lado, ouviam os mesmos cães e silêncios noturnos. Nos 80, não me perdi, porque aprendi, naquela época, a ser forte e preparar meu espírito pra os novos tempos, onde estou agora, suando meu pensar pelos caminhos diferentes. Por dentro, aquele guri de calças curtas, corre me chamando pra sair, jogar bola ou bolita, tanto faz, não era esse o motivo real, era respirar com meus amigos o ar da rua, de nosso bairro, que estacionado me espera saudá-lo novamente, e agradecer pelo tempo que me ensinou a ser gente.

Tomara os novos moradores cuidem das paredes, calçadas e telhados que foram minha aula de vida. Aquela já passou, mas os cadernos, com as lições que aprendi seguem guardados na minha pasta secreta na memória.Se os novos moradores não cuidarem da minha rua,azar deles, nunca terão as fotos na lembrança iguais as minhas, se quiserem eu conto como são, mas não entrego.

*Escritor, Cronista, Eng. Biomédico e Pesquisador - rault@terra.com.br