Artigo - Não sou mais virgem

Por Raul Tartarotti*

Estamos no mês de virgem e se não me engano, não sou mais virgem no agir e no pensar; Magoei, menti, amei, beijei.  Também não sou mais virgem em pandemia, em fazer quarentena até em compaixão. Sou virgem de ciúme e inveja alheias, não me coçam as que cruzam. Perto do parapeito amparo teu peito no meu.   Essa mulher que me atrai é muito virgem de aBraço, beijo e palavras cruzadas de amor.  Vou ensinar tudo.Me disseram que teremos um novo normal, vou me reinventar para beijar; como seria um beijo pela tela do celular, posso pintar de batom minha tela e ela beija a tela do outro lado, assim saio dali com minha boca vermelha?Eu não quero esse novo, quero o velho normal, fui feito daquele jeito, vou me estragar se mudar.

Quero ir ao cinema de mãos dadas;  ouvir aquele casal do lado comendo pipoca durante todo filme, parecendo dois dinossauros, e outro casal na frente se beijando igual sanguessuga; isso sim é o normal.O que mais você descreveria como sendo de bom gosto ou sem sal; Virgem na vida, de pensar o que realmente se passa da porta pra fora.

Me faça uma pergunta virgem? O que nao fizeste ainda que amanhã não será mais virgem nas tuas mãos? Só não é virgem o filme trasch que 2020 estáse tornando;  morreu muita gente de família boa; e os que ficaram?   Criaturas assustadas aos farrapos; pensam na morte, a cada calçada que cruzam com gente sem máscara; atravessar a rua já não é mais perigoso.Mesmo assim continuamos virgens de solidariedade, compaixão e empatia.  Ainda falta o abraço amigo, o telefonema carinhoso e o elogio fartos.

Mas afinal, essa é uma quarentena ou o jogo da verdade?

*Escritor, cronista, eng.biomédico, pesquisador e Industriário.

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